sexta-feira, 6 de abril de 2012

Impaciência


''Toc, toc, crack...'' Era o barulho que fazia. Era bem mais interessante que as lâminas, que eram silenciosas, a não ser pelos gritos ensurdecedores. Não costumo amordaçar: prefiro ouvir a agonia na voz da pessoa amarrada, cada tom que ela coloca na voz é um tipo diferente de dor. Isso é realmente gratificante. Mas dessa vez não era só isso. Decidi experimentar outra coisa dessa vez: um martelo. As primeiras duas marteladas apenas fizeram barulho, mas a terceira rachou a testa bem no meio, e é claro, os gritos estavam simplesmente incríveis. Precisei bater rapidamente, porque na primeira o desgraçado ameaçou desmaiar,e eu queria ele acordado quando sua cabeça estivesse parecendo um tomate despedaçado.
    É, muita gente tem razões pra fazer essas coisas. Eu também tenho as minhas: simples e pura vontade de perceber a dor das pessoas por todo tipo de guincho e urro que escapa de suas gargantas antes de serem cortadas. Pois bem, o martelo estava cumprindo bem o seu dever.
     Eu  tinha amarrado numa cadeira, com as mãos pra trás, os tornozelos nas pernas da cadeira e a nuca colada no encosto. Como o encosto era baixo, deixava seu pescoço bem exposto, e além disso o deixava de boca aberta. Mas como não queria que se engasgasse e acabasse com minha diversão cedo demais, recorri à velha tesoura e cortei sua língua bem na base. Os primeiros gritos já valeriam pelo resto da noite, um misto de desespero e  dor, e o olhar era como o de quem não estava entendendo absolutamente nada do que estava acontecendo. E realmente não estava: não escolho minhas vítimas por nada especial. Não tenho vínculo nenhum com elas. Simplesmente olho o rosto, e imagino como seria a sua tortura. As que ficam interessantes na minha mente, eu simplesmente executo. Nesse dia era um rapaz de aproximadamente uns 20 anos, sem barba no rosto, cabelos pretos arrepiados e lápis preto no olho. Mas o que me chamou a atenção nele foi a camiseta que usava: amarela com uma única estampa no meio, com um desenho que me fazia lembrar da minha infância, não sei porque. Era um desenho de um rosto sorrindo de um lado, e triste de outro. Provavelmente de alguma dessas bandas alternativas, mas não estava interessado nisso, e sim em qual dos rostos o infeliz assumiria enquanto estivesse sentindo o martelo no meio do crânio. Sua calça preta era colada na pele, e os tênis estavam sujos de terra e vinho, provavelmente já regurgitado.
     Comecei com a língua, e logo depois peguei o martelo. Havia alguma coisa nesse rapaz que me fazia sentir algo mais. Não tinha vontade de desmembrá-lo, como sempre fazia. Queria apenas testar minha nova ferramenta. Bati rápido as três primeiras, e foi incrível. Pedaços de osso da testa fizeram uma espécie de bica , por onde o sangue escorria, mais escuro que o normal. O sangue caía bem no meio de seus olhos, e ele ainda estava acordado. Como sua cabeça estava levantada, o sangue escorria direto pra boca, mas logo saiu, junto com vômito. A visão era linda. A camiseta agora estava realmente suja, escondendo o maldito desenho que me fizera escolher esse rapaz, e então ele desmaia. Acho que talvez já estivesse morto, mas mesmo assim não lamentei. O show foi curto, mas foi espetacular.
     Desamarrei o rapaz da cadeira, e sua cabeça estava aberta. Dava pra ver sua massa cinzenta lá dentro. Lindo. Cortei sua cabeça, depois os braços e pernas, com uma faca de açougue. É muito simples fazer isso: os ossos são ligados uns nos outros por cartilagem, e uma boa faca bem afiada dá conta dos cortes, é só saber onde ficam as junções. Depois de desmembrá-lo, coloquei os pedaços num carrinho de mão. Levei pro matagal que tem atrás de meu rancho, e achei um lugar que ainda não tinha sido usado. Com toda calma do mundo, enterrei os membros inertes assobiando Mother Goose, e voltei pra casa. Pendurei o martelo na parede e acendi meu cachimbo.
      ''Mais calma na próxima'', pensei. Então peguei minha harmônica e comecei a tocar um velho blues, imaginando quem seria a próxima pessoa a estar naquela sala cheirando a cérebro, vômito e sangue seco...

Ao som de blues, The Bones.

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