quinta-feira, 5 de abril de 2012

Cervejas e punhais

Em uma noite, sentado em um bar com os amigos bebendo e falando merda, meus olhos se cruzaram com os de uma mulher que passava. Sua beleza era deslumbrante e, mesmo sem nunca tê-la visto seus olhos libidinosos me fizeram sentir o desejo de segui-la.
Nunca fui assim, quem me conhece sabe, mas algo naqueles olhos chamou tanto a minha atenção, que não pude resistir. Levantei da mesa em que estávamos e como em um transe hipnótico fui atrás daquela mulher, deixando os meus amigos e um copo intacto de cerveja. Naquele momento nada mais existia, o barulho das conversas banais, as pessoas no bar, o cheiro do álcool e do cigarro, tudo havia desaparecido. Estávamos apenas eu e ela.
Seus passos eram firmes e determinados, como os de alguém que tem um compromisso importante a cumprir, no entanto era graciosa e seus cabelos dourados dançavam a cada passo dado. Ela seguia andando, não falava com ninguém- nem comigo- mesmo assim o desejo me consumia e eu só conseguia pensar em segui-la. Continuamos por uma rua estreita e escura, quando ela me olhou pela segunda vez, agora fazendo um sinal com o dedo que dizia para continuar a segui-la. Entramos em uma casa antiga- do início do século XX talvez- onde ficamos completamente sozinhos.
Começamos a nos beijar. Ao sentir seu hálito em minha boca e seus lábios nos meus, percebi que não tinha volta. Seus lábios naturalmente vermelhos, seu corpo feito para o pecado, tudo nela era perfeito e viciante, mais do que qualquer droga que eu já havia experimentado. Tudo fluía muito bem, mas quando fui tentar tirar suas roupas ela me mandou esperar.
"Esperar o que?" eu disse beijando-a novamente. "Está tudo tão bom".
"Você acha que eu não vi a aliança em seu dedo?" ela me disse. "Você estaria disposto a se desfazer dela por mim?"
Nesse momento várias coisas se passaram por minha cabeça:
"Estragar um relacionamento de seis anos por uma desconhecida?" eu pensei. "Se bem que meu relacionamento não está lá grande coisa." mas havia algo na frase "se desfazer dela" que me dava um mau pressentimento. Mesmo assim resolvi concordar, mesmo que fosse como uma mentira. Concordei. Concordei e tentei abraçá-la de novo, mas ela me evitou novamente e disse:
"Então prove!" ela falou isso apontando com o olhar em direção a uma velha mesa de centro, na qual havia um punhal.
"Você não espera que eu..."
" Se você quiser estar comigo sim!" disse ela me interrompendo.
Pensei por um momento. Eu sabia o quão idiota seria se aceitasse a proposta  vinda de uma mulher desconhecida que me mandava matar minha esposa. Não sei o que me deu naquela hora, mas tudo o que eu quis foi concordar com ela... e foi o que eu fiz.
Minha esposa não estava longe dali, estava saindo do trabalho a essa hora e em pouco tempo estaria em casa me esperando. A mulher, de quem eu nem ao menos sabia o nome, me deu a adaga e foi comigo até a minha casa onde esperou do lado de fora. Lá dentro, ouvi minha esposa me cumprimentar do banheiro onde estava tomando um banho. "Seu último banho" pensei.
Frio e cego pelo desejo, fui até o banheiro para matá-la. Sem saber disso ela veio feliz ao meu encontro. Ainda nua e molhada, me abraçou e me beijou. "Aquele seria seu último beijo" pensei. Enfiei o punhal em seu estômago indo lentamente em direção ao coração. Senti uma alegria mórbida em tudo isso.
Suas últimas palavras foram tão ingênuas quanto seu último gesto.
"Por quê?" disse ela passando sua doce mão em meu rosto.
Ela caiu no calor dos meus braços e enquanto via a vida saindo de seus olhos fui recuperando os meus sentidos.
"Sou um monstro" pensei.
Fui para fora e olhei para todos os lados, a mulher havia sumido. Subi novamente as escadas, estava sozinho em casa, não ouvia nada, apenas o barulho do chuveiro e as sirenes da polícia. Polícia? Como, se estava sozinho em casa e não houve gritos ou qualquer barulho? Ninguém devia saber ainda... A não ser...
" Aquela vadia deve ter chamado a polícia!"
Eles arrombaram a porta da casa  e a última coisa que me lembro foi de estar chorando e falando sobre a mulher de olhos azuis hipnotizantes. Depois disso todos me achavam louco.
No julgamento não houve surpresas. Me condenaram a 26 anos de prisão por homicídio qualificado. No entanto por sempre falar daquela mulher, concluíram que eu era louco, perigoso, mas louco, e me transferiram para um sanatório isolado, onde estou agora.
Mas bem no fundo sei que aquela mulher existe e tudo o que eu quero é matar aquela vadia da forma mais lenta e dolorosa possível...

Mais uma insanidade feita por mim, The Ugly, com ajuda do The Bad.

2 comentários: