sexta-feira, 13 de abril de 2012

Conto póstumo de uma bruxa

Devia ter ouvido meu gato...
Desde a primeira vez que ele veio aqui meu gato me mostrou o desespero que nutria pelo homem de feições suaves. Lugh nunca se enganava a respeito das pessoas, mas o amor que eu sentia por Brandon me cegou.
Nos conhecemos na feira de Scarborough. A festa era linda, tudo parecia mágico, e eu entretida com algo- não me lembro o que- esbarrei no braço dele, pedi desculpas e ele me convidou para dançar. Gostei muito da música que tocava na hora, mas pouco depois já não prestava mais atenção nela. Via seus olhos, e sentia seu corpo me levando em uma dança, que eu queria que durasse para sempre. Depois da dança fomos para um campo ali perto, no meio do caminho descobri que ele era um templário. Sabia que aquilo era perigoso para alguém como eu, mas o medo dava mais vontade de ir enfrente com tudo. Continuamos nos encontrando, e sempre quando ele ia a minha casa Lugh tinha a mesma reação.
Tudo aconteceu um dia em que estávamos sozinhos em minha casa. Estávamos apenas conversando, até ele me beijar de um jeito diferente, parecia me forçar a algo que eu não queria. Disse para ele parar, mas ele me segurou mais forte ainda e tentou tirar minhas roupas. O empurrei. Disse para sair dali, pois não faria nada que eu não quisesse. Ele ficou enfurecido, me agarrou pelo braço e gritou:
"Bruxa! Filha de Satã!"
Na verdade eu era uma bruxa, servia à deusa Hécate, sabia que com a inquisição e tudo mais morreria acusada de bruxaria a qualquer momento. Mas nunca pensei que fosse desse jeito. Ser morta por quem eu amo.
"Lilith! Maldita! Vai ter o que merece!" gritava ele, me empurrando com força em direção a velha macieira em minha casa. Ele me amarrou lá com cordas bem resistentes, de uma forma que eu não pudesse fugir. Pensei em pedir ajuda, mas não havia ninguém perto o suficiente para me ouvir. Então decidi aguentar calada.
"O seu gatinho vai primeiro. Ele vai te esperar no inferno" disse ele soltando uma risada mórbida. "Vou arrancar primeiro o olho direito!" assim que disse isso, ele tirou uma adaga de seu bolso e arrancou um por um os olhos do gato, que gritando, arranhava ele tentando fugir. Gritei, implorei para o desgraçado parar, mas ele se aproximou de mim, colocou a sua adaga contra minha garganta e disse:
"Quieta! Espere a sua vez e observe."
Assisti horrorizada ele matando pouco a pouco o meu gato Lugh, que havia tentado me avisar sobre esse monstro.
"Agora é sua vez Marie, vou te mandar para o sofrimento eterno!" disse ele fazendo um corte profundo em meu rosto. "Vou me divertir com você um pouco antes, tudo bem!?"ele soltou sua risada malévola e começou a arrancar uma por uma as unhas dos meus dedos, e quando achei que aquela dor não podia ser pior, ele começou a tirar meus dedos, tirou três deles e disse que ia guardar de recordação. Aí então ele começou a falar comigo, disse que teria sido tudo diferente se eu não tivesse feito como Lilith havia feito com Adão. Ele disse que se eu tivesse me submetido à suas vontades continuaria viva, mas como sou uma "bruxa rebelde" terei que sofrer as consequências de meus atos. Depois de algum tempo de conversa eu já havia desmaiado, só acordei com a dor das chamas subindo dos meus pés indo em direção ao resto do corpo. Eu chorei, eu sei o quanto chorei sentindo o meu corpo queimar e vendo a cara daquele desgraçado rindo da minha dor.
"Isso é para você aprender que há um único deus! Queime no fogo eterno do inferno sua maldita adoradora do diabo! Você é meu sacrifício ao meu deus!" disse ele dando outra de suas risadas.
Senti uma dor imensurável, mas com meu último suspiro e uma força que veio não sei de onde eu disse:
"Maldito seja você e todos os idiotas iguais à você! Malditos sejam eternamente! Saiba que me minha alma vai seguir vocês por toda a Terra até conseguir me vingar de todos vocês!"
O medo na cara daquele covarde foi libertador. E foi a última coisa que eu vi na vida.
Depois da morte não houve nada, apenas o ódio e a vingança. O persegui, fiz ele enlouquecer tanto, a ponto de ele mesmo se matar, enforcando-se em uma macieira velha no campo onde conversamos pela primeira vez. Mas isso não foi o suficiente. Nunca será...

Diretamente dos tempos medievais: The Ugly.

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