quinta-feira, 14 de junho de 2012

A liberdade de Bia

Bia era uma garota, quase como todas as outras. Linda, cheia de atitude e inteligente. Era educada e se portava como uma dama em ocasiões que cobravam tal postura. Cursava o 3° ano da faculdade de enfermagem, sempre com notas exemplares e elogiados trabalhos. Tinha pequenos atritos com a família, mas nada para ser considerado como um problema grave. Porém, como eu disse, Bia era "quase" como todas as outras. Este "quase" era um pequeno detalhe, mas um pequeno detalhe que a tornava extremamente rara. Bia tinha ambições e gostos muito diferentes dos das outras pessoas, e isso, nessa altura, começou a irritá-la. Ela andava deprimida. Não suportava mais as pessoas ao seu redor, vivia achando que tudo não passava de uma mentira eterna, e se recusava a aceitar que seu destino estava preso à uma cidade onde tudo morre antes mesmo de nascer. Bia queria a liberdade, mas uma liberdade que desconhecia e que não sabia onde encontrar. Estava completamente inerte dentro do seu próprio mundo. Resolveu tomar um porre de vodka barata para descobrir se conseguia sentir alguma coisa, qualquer coisa que fosse, além do vazio.
Talvez Bia não saiba, mas foi justamente esse porre que a trouxe a vida. No dia seguinte à bebedeira, a ressaca gritava aos seus ouvidos tudo o que deveria fazer, nos mínimos detalhes. Naquela manhã, Bia não se levantou, Ficou na cama pensando. Decidiu que aquele seria o dia onde tudo teria um fim, e o dia em que finalmente encontraria a liberdade. Limpou a pequena casa onde vivia sozinha, alimentou os gatos, lavou a louça e organizou as roupas nas gavetas. Perto das 6 da tarde tomou um banho e colocou sua roupa mais provocante. A caminhada até o bar foi torturante. Cheia de dúvidas e questionamentos que nem ela sabia que tinha. Sentou-se numa mesa do canto, sozinha, para poder observar bem quem seria seu parceiro aquela noite. Bia sabia que era linda, e sabia muito bem usar suas curvas a seu favor. Olhou por cima dos ombros procurando um cara qualquer. Não era muito importante, desde que pelo menos, tivesse um assunto que ela não precisasse muito fingir estar interessada. Bastou uma segunda olhada para ela encontrar o escolhido. Era um cara, desses qualquer, que perambula por ai. Bia tinha um sorriso encantador, e não demorou muito para o cara esquecer do que estava falando e aceitar o convite para ir a casa dela.
Bia abriu a porta do detestável apartamento e de cara jogou o rapaz na cama. Em alto e bom som ela disse que estavam ali apenas para transar, e com um sorriso meio cruel ela falou : espero que seja bom.
E eles transaram, transaram como se aquela fosse a última noite da terra, e se bem que na cabeça de Bia, aquela seria mesmo a última vez. Depois de um longo tempo, Bia se cansou de brincar. Achava que era a hora de fazer o que deveria ser feito, e olhando nos olhos do rapaz deitado ao seu lado, sentiu um pouco de pena. Ela deu um beijo na testa suada do rapaz e foi para a cozinha. Encheu duas taças com vinho, mas dentro de uma delas colocou um pote inteiro de sonífero. Desnecessário dizer para quem era a taça batizada.
Voltou para a cama, tomaram o vinho e ficaram jogando conversa fora até o cara apagar completamente. Não demorou muito. Bia se levantou, e começou os preparativos para sua maior farsa, a farsa que traria a liberdade. Ela foi até o guarda roupas e retirou um grande saco plástico, que continha os pedaços de uma amiga que havia matado na noite anterior. Seis pedaços, disformes, sem contar a cabeça. Espalhou os membros amputados de forma aleatória pelo quarto, deixando a cabeça de sua amada amiga morta entre as pernas ainda nuas do cara adormecido. Foi até a geladeira e retirou duas bolsas de sangue, uma contendo o seu próprio, e outra contendo o da amiga, retirado enquanto ela ainda estava viva. Estourou as duas bolsas e espalhou o sangue por toda a casa, para que ela parecesse um cenário de filme de horror. bagunçou um pouco os móveis, quebrou alguns pratos, pegou todo o dinheiro disponível e saiu, sem olhar para trás. Bia caminhou pelas ruas até chegar a um ponto de táxi sem movimento, chamou um carro e deu a rodoviária da cidade como destino. Na plataforma esperando o ônibus que a levaria para longe daquela maldita cidade, Bia pensou em como encaixaria a última peça do quebra-cabeças que havia criado, mas isso também não foi um problema. Foi até um telefone público e ligou para a policia, sabia que a ligação era anônima, então não se preocupou muito, apenas disse que havia visto pela janela do apartamento um homem esfaqueando duas mulheres, e deu o endereço de sua casa como sendo o local do crime. Pronto, estava feito, ela era oficialmente uma vítima de homicídio.
E foi assim que Bia conseguiu sua tão sonhada liberdade. Rindo meses depois, ao ver em um jornal qualquer que as buscas pelo seu corpo desaparecido haviam sido encerradas.
Toda liberdade precisa de uma vítima.







Caos, ódio e assassinatos para todos;
The Bad.


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